quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O dia da abóbora

O tempo está a mudar, o Outono vem aí! Apetece chá, manta, um bom livro e alguns mimos para confortar o corpo e a alma.

Para mim, a abóbora está indelevelmente associada ao Outono. O laranja é a minha cor favorita, sempre, mas os laranjas outonais têm outra luz, outro calor: as folhas secas a estalar debaixo dos pés, o pôr-do-sol prematuro, a lareira a crepitar, os sabores que nos aconchegam.

Como já disse, quando falei aqui sobre a minha sopa, sou fã da abóbora! Adoro a sua polivalência e rentabilidade: desperdiço muito pouco, quando utilizo abóbora. É um bom "projeto" para um domingo de chuva e preguiça, ou mesmo para um dia mais agitado em casa, porque há várias pequenas etapas que se podem ir concretizando, independentemente umas das outras, enquanto se levam a cabo outras tarefas, sem necessidade de dedicar um dia inteiro à transformação da abóbora.


Gosto bastante desta variedade de abóbora ‒ conhecida como abóbora-bolina ou abóbora-menina ‒ embora não seja a minha preferida para compotas (sobre essa falarei noutro dia!). É, de qualquer forma, excelente para a sopa, para transformar em puré e para aproveitamento das pevides (adoooooooooro pevides!). Sobre a primeira utilização, e sobre o valor nutricional da abóbora, já falei noutro post, portanto hoje vou falar sobre o puré e sobre as pevides.


Uma das principais vantagens desta variedade de abóbora é o facto de ser carnuda, pelo que podemos confiar que renderá bastante, qualquer que seja o destino final que lhe dermos. Esta tinha cerca de 3,5kg dos quais cerca de 400g foram imediatamente para a panela da sopa desse dia ‒ e rendeu aproximadamente 1kg de puré (escorrido).
Lavo-a antes de a cortar, numa bacia larga com água fria e vinagre branco, e o auxílio de uma escova suave (para não danificar a casca). 


A primeira coisa que faço é, normalmente, reservar as pevides. Se quiserem, podem lavá-las imediatamente, debaixo de água corrente fria, utilizando um coador de rede, para remover quaisquer fibras/restos de polpa, e depois deixá-las escorrer. Tendo o cuidado de secá-las bem, podem conservá-las assim no frigorífico durante um ou dois dias, mas não mais do que isso, para que não comecem a germinar. Mas, para já, vamos ao puré!


Forro bem um tabuleiro de ir ao forno com papel de alumínio ‒ cerca de 90% da abóbora é água, pelo que, a menos que queiram que o fundo do vosso forno se transforme numa piscina, devem isolar bem a "estufa" onde a abóbora vai assar. Antes de dispor no tabuleiro, corto em pedaços de 3-4 cm, com o cuidado de que todos os pedaços tenham casca, porque esta vai impedir que a abóbora seque demasiado durante a confeção. Idealmente, os pedaços seriam dispostos numa única camada, mas isso vai depender do tamanho do vosso forno, do número de tabuleiros de que disponham e do tempo que tenham disponível, pelo que se tiverem que empilhar duas ou três camadas, também não é problemático! Depois de dispostos os pedaços de abóbora no tabuleiro, fecha-se a "estufa" de papel de alumínio, tipo papelote. 


Não utilizo qualquer tempero nesta fase, porque o puré poderá depois ser utilizado em pratos mais doces ou mais salgados. Se já tiverem em mente uma utilização específica, há temperos que funcionam especialmente bem com a abóbora, como a canela, a noz moscada, o gengibre em pó e o cravinho.
Assa-se a abóbora no forno a 190º C, durante uma hora (caso tenha sido possível dispor os pedaços de abóbora apenas numa camada) ou hora e meia. Retira-se do forno e deixa-se arreferecer um pouco antes de abrir o papelote. Atenção que vai libertar-se vapor muito quente! Com uma faca, retira-se a casca, que vai estar bastante mole, por isso sai com muita facilidade (podem, inclusive, não descascar a abóbora e integrar a casca no puré, caso esta tenha sido bem lavada e não tenha manchas).


À medida que vou descascando a abóbora, vou passando os pedaços para um coador suspenso sobre uma bacia. Naqueles primeiros minutos, a abóbora liberta logo bastante água e é isso que se pretende: extrair o máximo de água possível.
Ao assar a abóbora em papelote, há outra vantagem, para além do facto de esta secar menos e não queimar nas extremidades, mesmo com uma temperatura elevada: no final, é só fechar o papelote sobre si mesmo e deitar no lixo, sem sujar nada!


Para transformar os pedaços de abóbora em puré, é sempre vantajoso usar uma varinha mágica ou um processador, mas quem não tiver, pode também usar um passe vite (manual ou elétrico) ou mesmo um esmagador de batatas (como este). Depois de se obter um puré homogéneo, transfere-se o preparado novamente para um coador, desta feita revestido com um pano de cozinha fino ou uma fralda de algodão (simples), ou recorrendo a alguma das alternativas que já referi aqui.


Deixa-se repousar durante umas horas ‒ se possível, durante a noite. No final, fecha-se a trouxa e aperta-se bem com as duas mãos, para escorrer o melhor possível.



Depois de terminado o puré, costumo dividir em porções e guardar no congelador. Gosto de utilizar, por exemplo, para massas recheadas (em combinação com requeijão e/ou espinafres, para ravioli e cannelloni, ou mesmo para lasanha), para fazer pão doce ou muffins, ou como recheio para tarte. Separo em porções de pouco menos de uma chávena (é suficiente para a maioria dos pratos, doces ou salgados, para duas pessoas).



Quanto às pevides, depois de limpas e secas, é altura de as cozer. Por cada ½ chávena de pevides, adiciona-se a uma caçarola duas chávenas de água e uma colher de sopa (mal cheia) de sal. Deixa-se ferver em lume brando durante 10 minutos, para depois coar. Deixam-se arrefecer um pouco e secam-se bem, com uma toalha de pano ou papel de cozinha. Depois, passam-se para uma tigela, onde levam uma massagem com azeite (½ c. sopa por cada ½ cháv. de pevides) e temperos ao vosso gosto! Pimenta, piri-piri em pó, orégãos, cominhos, coentros em pó... As minhas levaram uma pitada de pimenta-caiena (gosto das pevides levemente picantes!) e uma colherzinha de chá de mel (para contrabalançar o picante e proporcionar alguma caramelização).
Dispõem-se num tabuleiro de ir ao forno bem espalhadas, para não colarem umas às outras, e tostam a 200º C durante cerca de 10 minutos (dependendo da quantidade e do tamanho das pevides). Deixam-se arrefecer sobre uma rede metálica, e transferem-se para um recipiente com tampa ‒ útil por várias razões, mas também para restringir o acesso em caso de ataques de gulodice!

Sobre a compota, escrevo noutro dia, porque parece que há uma abóbora-chila algures no meu futuro, e essa sim, é a minha favorita para esse efeito!

Bom apetite e bom Outono!