segunda-feira, 20 de julho de 2015

Às compras em grande estilo!

Desde que começaram a cobrar preços exorbitantes pelos sacos de plástico nas grandes superfícies, muita gente começou a optar por levar os seus próprios sacos de casa, quando vai às compras. Na verdade, a reutilização dos sacos de compras já não era novidade: por opção ou por necessidade, e mesmo antes da implementação da reforma da fiscalidade verde, já muitas pessoas reutilizavam os sacos que traziam dos supermercados. No entanto, e até recentemente, estes eram mais frágeis e, por isso, com reutilizações limitadas. Hoje em dia, também já dispomos, em algumas cadeias de supermercados, de opções como os sacos de papel e os sacos (grandes) de ráfia de polipropileno.

Para as pequenas compras do dia-a-dia, costumo optar pelos sacos de pano: esteticamente, acho-os mais bonitos; por outro lado, são também resistentes, maleáveis e laváveis, sendo possível tê-los sempre por perto (na mala ou mochila), mesmo quando a visita ao supermercado não foi planeada com antecedência.


Este saco já me acompanha há vários anos, e já fez muitos quilómetros na minha mala! É prático e resistente, e facilmente vai a lavar na máquina, no meio da roupa de cor. Tem, no entanto, a meu ver, três pequenos "defeitos":

1. Sendo o típico tote bag, está construído em 2D, ou seja, quando é necessário transportar algum objeto mais volumoso (por exemplo, uma lata de feijão ou grão das maiores), perde em altura o que é necessário para o fundo;
2. Tem as alças um pouco compridas, o que faz com que, por vezes, arraste no chão (especialmente ao subir ou descer os passeios);
3. Não tem nenhum sistema que o mantenha dobrado enquanto está arrumado dentro da mala, pelo que às vezes se desenrola, o que o deixa mais exposto à sujidade, e também dificulta a sua remoção da mala.
Para resolver estas pequenas falhas, e pôr em ação a criatividade, proponho-vos um projeto que julgo ser ótimo para quem se está a lançar nas "lides" da costura: um saco reversível, com fundo, e que, depois de dobrado, fecha com um atilho, pelo que pode ser transportado para qualquer lado, sem ocupar muito espaço!

As máquinas de costura são um objeto cada vez mais comum nas nossas casas; das mais variadas marcas e modelos, há para quase todos os gostos e carteiras. Por menos de 100€ já é possível ter uma boa máquina de costura, perfeitamente suficiente para os nossos projetos pessoais ou profissionais (de pequena/média escala). Se, para muitas pessoas, a decisão de comprar uma máquina de costura é relativamente simples, já a entrada em ação costuma levar mais algum tempo. As primeira tentativas podem ser frustrantes, e rapidamente a máquina pode ser arrumada a um canto (com mais ou menos remorsos associados!). É preciso começar devagar, numa progressão (por vezes, mais lenta do que idealizamos) do mais simples para o mais complexo. Já há muitos tutoriais disponíveis (em revistas ou online), mas eis alguns defeitos relativamente comuns a alguns desses projetos de iniciação à costura:
1. Sendo esteticamente bonitos, ou tecnicamente complexos (permitindo, assim, desenvolver uma série de competências), resultam em objetos pouco práticos ou úteis para o dia-a-dia;
2. Sendo relativamente simples, são pouco desafiantes, sendo por isso difícil manter um nível de motivação constante, vital para a boa conclusão do projeto; 

3. São demasiadamente prescritivos, deixando pouca margem para a inventividade.
Penso que este projeto está ao alcance de qualquer principiante (uma vez que nem eu própria sou excecionalmente experiente na costura!) que tenha à sua disposição materiais de boa qualidade, e uma boa dose de paciência e determinação! Facilmente poderá ser transformado e complexificado, por quem tenha mais traquejo; deixo algumas sugestões nesse sentido, no final do post!

Primeiro passo: tirar as medidas e cortar o tecido! Como o saco é reversível (ou seja, na verdade, faremos dois sacos, que depois uniremos), precisamos de quatro retângulos de tecido para o corpo do saco, mais dois para as alças, e mais um para o atilho. Não quero que o saco fique muito mais largo do que aquele que me serviu de molde, pelo que vou cortar à medida, deixando apenas 1cm-1,5cm de margem de costura de cada lado e em cima, e 10cm em baixo (para o fundo + margem de costura). Fico, assim, com quatro retângulos, idênticos dois a dois, com 50cm x 35cm.


Como já expliquei, quero as alças ligeiramente mais curtas, por isso faço pela medida das atuais, sabendo que vou perder 2cm-3cm de comprimento com a margem de costura, durante a aplicação, o que me parece suficiente. A largura das alças não quero mudar (há que ter apenas em conta a margem de costura). Fico, assim, para as alças, com duas tiras de 54cm x 6cm.


Para o atilho, precisamos de uma tira estreita e comprida, costurada de forma a ficar resistente (pois vai ter que aguentar o esforço de atar e desatar). Corto um retângulo com 60cm x 4 cm.

Segundo passo: fazer as alças e o atilho! Podem começar por fazer o corpo do saco, mas pessoalmente prefiro deixar as peças mais pequenas (ou acessórias) prontas primeiro, para não interromper depois o fluxo do projeto, e também porque, exigindo mais minúcia, é sempre preferível dedicarmo-nos a elas quando estamos com mais disposição! 

2.1. Vamos costurar as alças e depois virá-las. Neste caso, como o tecido escolhido é igual dos dois lados, é indiferente de que lado se cose. No caso de um tecido estampado, a costura deve ser feita do avesso, para que fique escondida no interior, depois de dada a volta. Nesse caso, dobra-se o tecido a meio, longitudinalmente, com o "lado bonito" do estampado virado para dentro. Em qualquer caso, utilizamos o ferro de engomar para vincar a dobra, e auxiliamo-nos de alfinetes para garantir que o tecido não sofre desvios durante a costura. Depois de cosidas as duas alças, vamos dar-lhes a volta, com a ajuda de um alfinete-de-ama, um clip, uma caneta, uma tesoura de pontas redondas... enfim, o que vos der mais jeito! É importante salientar que quanto mais estreita a tira, e quanto mais espesso o tecido, mais lenta e laboriosa será a viragem. Armem-se de toda a vossa paciência, ponham uma banda sonora relaxante, e mãos à obra! Concluída a viragem, usem o ferro para achatar as costuras.



2.2. Vamos fazer o atilho, que depois aplicaremos no saco já concluído. Com a ajuda do ferro, dobramos a tira ao meio, no sentido longitudinal. Depois de encontrado o meio, dobramos os dois lados para dentro, alinhando com o centro. Voltamos, depois, a dobrar ao meio, com as duas abas viradas para dentro da tira, vincando novamente com a ajuda do ferro. Esta tira que obtemos é a chamada tira de viés, que se pode também usar para debruar (viés mais largos são usados como cós para cinturas, colarinhos e punhos, por exemplo). Costuramos, depois, a toda a volta da tira (os quatro lados), bem junto à margem, com o cuidado de colocar as pontas para dentro, antes de coser as extremidades mais estreitas.



Terceiro passo: vamos coser o corpo do saco, que, como já expliquei, consiste, na verdade, em dois sacos unidos entre si. Para simplificar, e clarificar a distinção entre as duas peças para efeitos do processo de costura, vou utilizar os termos "saco" e "forro". Para coser o saco, vamos sobrepor dois dos retângulos cortados para esse efeito (em caso de tecidos estampados, com os "lados bonitos" enfrentados, e os avessos para fora). Fixamos as peças com a ajuda de alfinetes, de forma a ficarem bem alinhadas entre si, e cosemos três dos quatro lados (em "U"), a cerca de 1cm-1,5cm da margem. Para coser o forro, utilizamos o mesmo procedimento, exceto no seguinte: em baixo (na base do "U") deixamos um buraco, ou seja, uma parte sem coser, mais ou menos a meio, com cerca de 5cm-10cm; é por esse buraco que depois daremos a volta à peça terminada!

Quarto passo: vamos dar uma terceira dimensão ao saco, ou seja, vamos fazer-lhe um fundo. Para isso, temos que encontrar as esquinas do saco e do forro que fizemos no passo anterior. Alinhamos perfeitamente ambas as costuras laterais com a costura inferior, com a ajuda de alfinetes. Marcamos, depois, um triângulo (em cada esquina) com cerca de 5cm de altura (ou 10cm de base), e costuramos ao longo da base desse triângulo. Com a tesoura, aparamos o excesso de tecido a cerca de 1cm-1,5cm da costura que acabámos de fazer, e rematamos o sobrante com uma costura em zig-zag (para garantir a resistência do fundo do nosso saco). Repetimos esse procedimento quatro vezes, ou seja, para as duas esquinas do saco e para as duas esquinas do forro. Todo este processo é feito com as duas peças (saco e forro) do avesso, para que, depois de pronto, todas estas costuras fiquem escondidas.


Quinto passo: vamos aplicar as alças! Para saber onde devemos fixá-las, vamos dar a volta ao saco (com as costuras para dentro, e no caso dos tecidos estampados, com o "lado bonito" virado para fora), dobrá-lo ao meio, e novamente ao meio. Com a tesoura, fazemos um pequeno corte no sítio onde as peças se encontram. Utilizando o mesmo método (mas dobrando apenas uma vez ao meio), vamos determinar a metade da largura das alças. Alinhamos, depois, esses cortes entre si, fixando as alças ao saco com a ajuda de alfinetes. Ao coser as alças ao saco, este deve "entrar na máquina" aberto, ou seja, cosemos as duas pontas de uma alça a um dos lados, e as duas pontas da outra ao lado oposto, com cuidado para não fechar a "boca" do saco no processo! Para garantir que as alças ficam bem fixas, podemos utilizar o pedal de retrocesso da máquina (utilizado para rematar as costuras) várias vezes, voltando ao início da costura e deixando correr até ao final da mesma (fiz esse processo 3-4 vezes).


Sexto passo: vamos unir o forro ao saco! Com o forro do avesso e o saco do direito (ou seja, com os "lados bonitos" das duas peças enfrentados), enfiamos o saco dentro do forro, com o cuidado de que as alças fiquem também para dentro. Fazendo coincidir bem as costuras laterais de saco e forro, utilizamos alfinetes para alinhar e fixar os topos das duas peças. Com o saco aberto, cosemos a toda a volta da "boca" do saco (deixei uma margem de cerca de 2cm).

Sétimo passo: vamos dar a volta ao saco! Utilizando o buraco que deixámos por coser no fundo do forro, vamos ‒ com cuidado! ‒ dar a volta a toda a peça. Primeiro, puxando o saco, e depois introduzindo o forro dentro do saco. Fechamos o buraco com uma costura em zig-zag (à máquina), ou com o ponto invisível ou cego (à mão). Para garantir que o forro e o saco ficam bem unidos, e que um e outro só são visíveis à vez (ou seja, que a costura não rola), podemos coser a toda a volta da "boca" do saco, já depois de fechado e introduzido o forro.



Oitavo (e último) passo: vamos aplicar o atilho! Esta última etapa já não é, a meu ver, fundamental para a estrutura da peça, pelo que será opcional, mas certamente útil para quem, como eu, queira transportar o saco bem arrumado, dentro da mala, à mão para qualquer emergência! Embora o saco, depois de terminado, seja completamente reversível durante o uso, o atilho é aplicado numa das faces, o que significa que, depois de usado, ele deve ser dobrado e atado sempre com a mesma face visível. Marco o local onde vou coser o atilho, determinando o meio da largura de uma das faces do saco. Seguindo essa linha, e a cerca de 2cm-3cm do fundo do saco, fixo o atilho com a ajuda de um alfinete (deixando mais ou menos metade do comprimento do atilho para cada lado desse ponto de fixação). Para garantir a resistência do atilho, utilizei uma costura em zig-zag, em retângulo.


E está pronto! Para fechar, dobra-se o saco em três, no sentido longitudinal, com as alças viradas para dentro, e enrola-se da "boca" para o fundo. Fechado, as suas dimensões aproximadas são de 12cm x 7cm (as dimensões poderão variar consoante a espessura dos tecidos escolhidos).


É um projeto rápido e simples, que, ao possibilitar bons resultados com alguma facilidade, nos permite ganhar alguma confiança e destreza! Não indiquei grandes especificações relativas à costura à máquina porque é possível fazer tudo isto sem máquina de costura; embora, claro, exija mais esforço e mais tempo.


Aqui ficam, tal como prometido, algumas sugestões de transformação para este projeto: 

1. Aplicar um fecho de correr, botão(ões), mola(s) de pressão ou cordão (os tote bags não têm, por definição, sistema de fecho);
2. Fazer uma alça da cor do saco e outra da cor do forro; 
3. Em vez de usar peças inteiras para o corpo do saco, recorrer a técnicas de quilting ou patchwork, e/ou aplicação de rendas, fita grega/espiguilha, barras de bordado inglês com passa-fita, etc.; 
4. Aplicar um atilho no saco e outro no forro, de forma a que seja possível fechar em qualquer configuração;
5. Aplicar um bolso numa das faces do saco, ou em ambas.
 Boas costuras!

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