segunda-feira, 9 de março de 2015

A avó e o bolo

A minha avó não é uma daquelas avós fofinhas, do molde Disney, de carrapito no alto da cabeça, óculos na ponta do nariz e avental branco, sempre impecável. Não foi a avó das histórias e dos lanchinhos caprichados, não foi a avó do colo e dos conselhos sábios.
Desde que me lembro de ser gente, a minha avó sempre trabalhou ‒ eu já era adulta quando ela se reformou ‒ e, para mim, a identidade dela (e o meu imaginário de 'avó') sempre esteve fortemente ligada à sua profissão; que, aliás, desempenhou sempre com prazer, dedicação, inspiração. Ainda hoje, quase 10 anos depois, muitas das suas amizades, e em especial as mais permanentes e consistentes, foram forjadas no contexto de trabalho.
A minha avó é o tipo de avó que só se pode apreciar depois de crescer, depois de viver, depois de dar as suas próprias cabeçadas e fazer as suas próprias descobertas.  Eu penso que sou, também, um pouco assim; como a minha avó, um gosto adquirido, aprendido!
Há outro aspeto em que, parece-me, sou também bastante parecida com a minha avó: dizemos que amamos, fazendo. Fazer alguma coisa por, ou para, alguém que se ama é a forma de expressão que me surge com mais naturalidade. Se isso está no sangue, ou se isso é fruto do que toda a vida se vê e se sente, não sei. Mas assim é!

Este sábado, dia 7 de Março, a minha avó fez 77 anos. Já há algum tempo que não celebrava o aniversário com ela, mas este ano a coisa proporcionou-se, e até a meteorologia ajudou! Foi um dia feliz, longo, preenchido; de luz, de risos, de amor em atos e em memórias ‒ mais do que em palavras. Somos assim.


O bolo de aniversário foi feito e decorado por mim ‒ como não podia deixar de ser!
A base é um bolo de cenoura e frutos secos que já utilizei várias vezes (receita aqui; acrescentei apenas uma colher de chá de fermento, apesar de ter utilizado farinha com fermento). Já experimentei fazer com noz e com amêndoa, e resultou bem de ambas as formas.





Quando utilizo formas sem furo no meio, há sempre tendência para o bolo abobadar um pouco ao centro. Isso acontece porque a parte exterior do bolo, por estar mais próxima do metal, atinge uma temperatura mais elevada, e por isso coze primeiro, do que o centro do bolo. Uma forma de contornar isso é tentar manter o exterior da forma mais frio, e há algumas soluções no mercado: umas tiras reutilizáveis, que se molham, e se enrolam à volta da forma (exs.: aqui e aqui). Uma outra solução é reutilizar panos ou roupas velhas (de algodão), sem outro uso, que há sempre esquecidas em alguma gaveta. Deve haver a preocupação de fazer uma tira o mais uniforme possível, com extensão suficiente para rodear toda a forma, e que fique bem cingida. Neste caso, há que estar atento ao processo de cozedura, em especial em fornos a gás (com chama), para evitar acidentes!

Como a ideia era rechear e cobrir o bolo, neste caso a solução foi cortar o topo (há sempre algum/a voluntário/a para "tomar conta" dos restos!...), e virá-lo ao contrário, de forma a garantir uma superfície uniforme.
Caso se pretenda rechear ou cobrir o bolo, este deve sempre arrefecer completamente, de preferência sobre uma grelha metálica. Normalmente, deixo os bolos (ou queques) arrefecerem, primeiro, durante uns 10 minutos, dentro da própria forma, transferindo depois para a grelha, onde ficam até arrefecerem completamente.

Para este bolo, de cenoura e noz, utilizei uma cobertura buttercream com infusão de alfazema (ou lavanda). Foi a primeira vez que utilizei uma infusão de alfazema, e resultou muito bem! Utilizei alfazema seca, que se pode comprar embalada em lojas de produtos naturais/dietéticos ou drogarias, ou até em alguns supermercados (mas falarei, numa próxima oportunidade, sobre a possibilidade de colher, secar e utilizar plantas aromáticas de produção própria). O buttercream utiliza, para além da manteiga (que lhe dá o nome), açúcar em pó, essência de baunilha e leite. Como queria experimentar uma cobertura com aroma de alfazema, utilizei leite infundido. Para garantir um aroma subtil, uma opção poderá ser combinar leite infundido e leite "normal" (para diluir).

A proporção é de uma colher de sopa de alfazema seca para duas colheres de sopa de leite. Pode parecer muito, mas trata-se de uma infusão a frio ‒ junta-se a alfazema ao leite, num recipiente com tampa, e deixa-se repousar no frigorífico durante 6-8 horas (ou durante a noite). Como o leite não ferve, a libertação dos óleos essenciais da alfazema é limitada, pelo que o aroma será sempre mais subtil do que o de uma infusão quente (como o chá).


Para o buttercream:
- 250g de manteiga sem sal (em cubos, à temperatura ambiente)
- 1 colher de chá de essência (ou aroma) de baunilha
- 1/2 colher de café de sal
- 450g de açúcar em pó
- 6-8 colheres de sopa de leite (mais ou menos quantidade, conforme a consistência desejada)

Juntam-se o três primeiros ingredientes num recipiente e bate-se muito bem. Acrescentam-se o açúcar e o leite, aos poucos e alternadamente, batendo muito bem entre cada adição.


Quem tiver fornos amplos (e formas idênticas), poderá dividir a massa do bolo em duas (ou mais) formas, sobrepondo depois as camadas, intercaladas com o recheio. Para quem, como eu, não quiser (ou não puder) fazê-lo desta forma, poderá cortar o bolo longitudinalmente, depois de frio, com a ajuda de uma faca longa e flexível. Para garantir um corte uniforme, um truque será fazer uma primeira incisão superficial, a toda a volta do bolo (rodando o suporte/prato e não o bolo), garantindo que os dois extremos coincidem, passando depois, então, ao corte em profundidade.




Depois de recheado e coberto, ficou assim. Pessoalmente, acho que a cobertura irregular (algo "tosca") dá um certo charme, mas quem queira um acabamento mais delicado, poderá utilizar uma espátula ou uma faca (sem serrilha), que se vai mergulhando em água fria, para alisar a superfície do bolo. 
Para finalizar a decoração, as velas (claro!) e uns pintaínhos coloridos, da coleção de Páscoa da Tiger, porque a minha avó é a "maestra" da capoeira!




O resultado final: feito com amor e apreciado pelos/as provadores/as.
E no dia seguinte, ao pequeno-almoço, soube ainda melhor!...

Sem comentários:

Enviar um comentário