segunda-feira, 30 de março de 2015

Bom dia, alegria!

Muito popular para pequenos-almoços ou lanches, a granola é uma mistura de frutos secos (como nozes, avelãs ou amêndoas), cereais (como o farelo de trigo, a aveia ou o arroz tufado) e sementes (como o amendoim, as pevides de abóbora ou o caju) ‒ entre outras combinações possíveis ‒ tostada e envolvida numa calda doce. Também é comum juntar-se fruta (fresca ou desidratada, como arandos, passas ou tâmaras), e servir com iogurte ou leite.

É uma boa opção para o início do dia, ou para os pequenos lanches a meio da manhã ou da tarde, visto que combina os benefícios dos frutos secos e dos cereais integrais (dependendo do que se utiliza na sua confeção): boas quantidades de fibra, ácidos gordos ómega-3, vitaminas e minerais. O seu potencial para o organismo relaciona-se com o combate ao mau colesterol, regulação da função digestiva, controlo do índice glicémico (evitando os "picos" de açúcar no sangue, e consequentes quebras) e da tensão arterial, tendo também benefícios antioxidantes.

Nem sempre é fácil fazermos boas opções alimentares logo ao início do dia ‒ por vezes, por falta de tempo ou até mesmo de energia e acabamos por recorrer àquilo que dá menos trabalho, mas também menos benefícios. Por isso, faço um esforço por planear as refeições com alguma antecedência, e sempre que possível, aproveito o domingo para preparar alguma coisa para os pequenos-almoços (e snacks) da semana.

Esta semana, experimentei fazer granola pela primeira vez!





Hoje de manhã, para o pequeno-almoço, servi com morangos frescos, e acompanhei com café.

A minha granola leva flocos de aveia, pevides de abóbora, côco ralado e avelãs tostadas, envolvidos numa calda de açúcar mascavado e mel (com um toque de baunilha).

Utilizei avelãs porque era o que tinha disponível em casa, e porque são uma opção mais económica. Regra geral, é possível substituir quaisquer frutos secos entre si (ou seja, se uma receita pedir nozes, em princípio será possível utilizar amêndoas, avelãs, caju, ou qualquer outro fruto seco, conforme a disponibilidade), sabendo, no entanto, que cada um tem o seu aporte em termos de sabor. Depois de tostadas no forno, as avelãs ficam com um aroma muito agradável, que enriquece qualquer prato.




Depois de descascadas, dispõem-se num tabuleiro de ir ao forno. Aquece-se o forno a 180ºC - 200ºC, e bastam 10 minutos por vezes menos, por isso convém estar com atenção! Assim que começarem a libertar os óleos essenciais (aquele aroma dos frutos secos tostados), estão prontas. Levar ao forno não só enriquece, a meu ver, o sabor das avelãs, como ajuda a remover a pele, cujo sabor pode tornar-se um pouco amargo (se não enquanto cruas, pelo menos durante o processo de confeção). 


Acho mais fácil remover a pele das avelãs depois de tostadas. Embora para as amêndoas, por exemplo, resulte muito bem demolhá-las em água quente, para remover a pele, já experimentei fazê-lo com as avelãs, e não resultou tão bem. Envolvendo as avelãs tostadas num pano de cozinha, e rolando-as algumas vezes dentro dessa trouxa, a pele sai com bastante facilidade.




Como tenho a sorte de ter um bom processador de alimentos, aproveito para picá-las, de seguida. Dependendo da consistência que se pretenda, alguns segundos são suficientes.




Para a granola, como ia utilizar também as pevides de abóbora, aproveitei para triturá-las um pouco também ‒ o meu objetivo era conseguir que os pedaços de cereais, sementes e frutos secos ficassem mais ou menos com o mesmo tamanho.

Esta foi a lista de ingredientes sólidos:


- 200g de flocos de aveia
- 200g de côco ralado
- 100g de avelãs tostadas
- 100g de pevides de abóbora
- 2 c. chá de canela em pó


Unta-se um tabuleiro de ir ao forno, e dispõem-se os ingredientes, misturando bem. Aquece-se o forno a 180ºC e leva-se a tostar durante 10 minutos. Enquanto isto, prepara-se a calda:


- 100g de açúcar mascavado claro
- 70g de margarina (ou manteiga)
- 3 c. sopa de mel
- 1 c. chá de essência (ou aroma) de baunilha (que se acrescenta no fim)


Levam-se os três primeiros ingredientes a aquecer numa caçarola, mexendo bem, para misturar e não deixar queimar. Demorará alguns minutos até começar a engrossar. Quando adquirir a consistência desejada (semelhante ao mel), retira-se do calor e acrescenta-se a baunilha.

Retira-se o tabuleiro do forno e junta-se a calda à mistura seca, envolvendo bem, levando novamente ao forno, a tostar, durante mais 10 minutos. No final, retira-se do forno e deixa-se arrefecer no tabuleiro. Se se pretender conservar durante algum tempo, o ideal é dividir em porções, esterilizar os frascos e acondicionar a granola ainda morna.

A granola fica, como o próprio nome indica, com uma consistência granulosa e crocante, embora os torrões se desfaçam com bastante facilidade. Para conseguir barrinhas de granola, deverá utilizar-se mais calda e espalmar bem a mistura, no tabuleiro de levar ao forno, pressionando com a ajuda de uma colher ou espátula. O ideal é deixá-la arrefecer completamente antes de cortar em pedaços, e depois conservar no frigorífico (para manter a consistência).

Bom dia e boa semana!

terça-feira, 17 de março de 2015

A panela da sopa

O meu primeiro ‒ e, durante vários anos, único ‒ livro de cozinha foi-me oferecido quando eu teria uns 14 anos, pela Teresa Cunha.

Eu ao colo da Teresa, poucos dias antes do meu primeiro aniversário (Julho/1985).
A Teresa é a minha "tia emprestada" ‒ amiga da família há décadas ‒ e as minhas memórias das visitas à casa dela estão muito ligadas aos cheiros e aos sabores da cozinha, onde sempre foi mestre!


Andei à procura do ano da primeira edição deste livro, mas não consegui informação concreta. A quarta edição, ao que parece, data de 1940, pelo que podemos supor que a edição original datará da década de 30 do séc. XX. Penso que o design gráfico e a estrutura interna do próprio livro denunciam que se trata de uma "relíquia"; basta assinalar que está dedicado, pela autora, «Às senhoras que dirigem a vida do lar»...! Para quem tem o fascínio do retro/vintage, este é o cromo que falta nas vossas cadernetas!

Só vários anos mais tarde, outro livro de cozinha chegou à estante cá de casa (o famoso «Livro de Pantagruel»), mas antes disso, e dentro da minha (então) parca criatividade e competência culinária, «A Cozinheira das Cozinheiras» foi um bom companheiro de primeiras viagens. 

Hoje em dia, tenho alguns (não muitos) livros de cozinha, que escolho a dedo e exploro com olhar crítico. É raro seguir uma receita "à letra", do princípio ao fim; não porque me sinta mais conhecedora do que quem se dedica profissionalmente a estas coisas, mas porque sou muito intuitiva na cozinha, e gosto de ir seguindo as pistas que me vão sendo dadas pelo olfato, o paladar e a visão ‒ e pelas memórias associadas a estes sentidos.

Já não me lembro exatamente da primeira vez que fiz sopa, mas lembro-me que a fiz seguindo as indicações deste livro, e se o resultado não foi suficiente para tolher definitivamente quaisquer aspirações culinárias, foi apenas porque sou um bicho de teimosia lendária ‒ e a Teresa está aqui, que não me deixa mentir!...

A sopa é, atualmente, um elemento-chave da alimentação cá em casa. Costumo fazer sopa uma vez por semana: uma panela de seis litros, que depois divido em doses e armazeno, e que costuma garantir quatro dos cinco almoços da semana "útil". Uso quase sempre a mesma lista de ingredientes ‒ raras oscilações no elenco final podem dever-se ao que vai estando (ou não) disponível na mercearia e, consequentemente, no frigorífico aqui de casa: cenoura, curgete, abóbora, alho-francês, couve-coração e feijão encarnado. Não uso batata ‒ não porque tenha alguma coisa contra a batata, do ponto de vista nutricional (não sou fundamentalista em nada, e muito menos em relação à alimentação!), mas simplesmente porque acho que a batata é, muitas vezes, a solução preguiçosa: rápida e facilmente dá à sopa aquela textura aveludada tão apetecível, sem grandes impactos ao nível do sabor. Como faço quase sempre a mesma sopa (por questões de economia de tempo, esforço e dinheiro), tento que esta seja rica e diversificada do ponto de vista nutricional, e desafiante em termos de sabor.

Outra preocupação que também tenho é evitar, sempre que possível, descascar os vegetais. Por várias razões: por um lado, sempre ouvi dizer que uma parte significativa das vitaminas e dos minerais presentes nos alimentos está na casca; depois, porque a casca previne (ou, pelo menos, desacelera) o processo de oxidação dos alimentos pós-colheita; finalmente, porque é a opção mais económica ‒ poupa-se tempo de confeção e poupa-se dinheiro, uma vez que, quando se descasca, desperdiça-se, quase inevitavelmente, alguma polpa. Sendo uma barreira protetora para os alimentos, a casca pode conter alguns elementos mais ou menos nocivos à saúde de quem consome. Algumas formas de controlar isso: por um lado, procurar ter algumas garantias quanto à origem dos produtos que se consomem; por outro lado, ter alguns cuidados no processo de confeção. Por princípio, não uso desinfetantes ou antibacterianos sintéticos na comida (da mesma forma que também não os utilizo na higiene pessoal). Uma lavagem enérgica debaixo de água fria corrente (se necessário, com o auxílio de uma escova) é mais do que suficiente, na maioria dos casos. Uma outra opção é o recurso a desinfetantes naturais, como o vinagre branco e o limão: podem misturar-se em estado puro e borrifar sobre os alimentos, ou diluir em água, num "banho de imersão". Depois, é enxaguar bem em água limpa, antes da utilização.


A cenoura é um elemento polivalente e omnipresente nas nossas cozinhas! Compõe pratos doces e salgados, e pode ser utilizada em conservas. A sua cor viva, laranja, deve-se ao teor em beta-caroteno, que é convertido em vitamina A (importante para a saúde da pele e das células, bem como para a saúde ocular) durante a digestão. A cenoura beneficia do processo de cocção: quando consumidas cruas, apenas 3% do beta-caroteno presente nas cenouras é metabolizado no processo digestivo, ao passo que a cozedura aumenta esse valor para 39% (especialmente, com a adição de óleos alimentares, como o azeite, visto que o beta-caroteno é lipossolúvel). A cenoura é também uma boa fonte de fibra, vitamina K e vitamina B6 (ambas importantes, entre outros aspetos, para a saúde do sangue).


Adoro utilizar curgete na sopa, e em outros pratos, por causa do seu sabor suave e por causa do verde vibrante da casca. É baixa em calorias, não contendo gorduras saturadas ou colesterol. É rica em fibra e é uma boa fonte de potássio e ácido fólico. Consumida fresca, é rica em vitaminas A e C (antioxidante e potenciadora do sistema imunitário).


Sou fã da abóbora! "Faço a festa" com uma abóbora, e aproveito tudo! Um dia destes, falo mais sobre o assunto. Para resumir os benefícios da abóbora, basta dizer que, sendo da família da curgete, é também baixa em calorias, e sendo laranja como a cenoura, é também uma excelente fonte de beta-carotenos. Está carregadinha de vitaminas com poder antioxidante (A, C e E) e é também uma boa fonte de minerais como o cobre, o cálcio, o potássio e o fósforo.


O alho-francês é o parente mais adocicado da cebola e do alho. É também uma fonte importante de ácido fólico e vitaminas A, B6, C e K, para além de ferro. É importante lavar bem antes de consumir (visto que pode acumular areias), fazendo um corte longitudinal e enxaguando bem, debaixo de água fria corrente, com a parte mais verde do caule voltada para baixo (para que as impurezas escorram).


Comecei a usar couve-coração na sopa um pouco por acidente; embora a sua utilização seja bastante comum aqui no Norte, especialmente na confeção de sopas, não é tão popular no Sul. Deve o nome ao seu formato ‒ parece mesmo um coração anatomicamente correto (não daqueles mais estilizados, do Dia dos Namorados!...). A primeira vez que vi, no menu da cantina, "sopa de coração" (como é mais conhecida por estas bandas), fiquei um pouco assustada; a última coisa que me ocorreu foi que se tratasse de uma couve!... Meia chávena de couve fornece 47% do VDR de vitamina C e mais de 100% do VDR de vitamina K. Contém, ainda, magnésio e ácido fólico, para além de cálcio e potássio, sendo também rica em fibra.


O feijão encarnado é uma boa opção para garantir uma textura aveludada da sopa, sem utilizar batata, para além de também dar uma boa cor! Em inglês, chamam-se kidney beans ‒ "feijão rim", o que, olhando para eles, se compreende! O feijão ‒ tal como outras leguminosas ‒ é uma excelente fonte de proteína de boa qualidade, útil para quem segue uma dieta vegetariana ou vegan. Uma porção de 100g de feijão encarnado contém 99% do VDR de ácido fólico, sendo também rico em ferro, magnésio e zinco. Sempre que se use feijão encarnado seco, é importante ter em atenção que este contém níveis significativos de uma proteína chamada fitohemaglutinina, potencialmente tóxica, devendo ser demolhado e cozido até ao ponto de ebulição, fervendo durante pelo menos 10 minutos. A opção por feijão enlatado (pré-demolhado e cozido) anula este risco.


Visto que o processo de confeção conduz, inevitavelmente, à perda de algum valor nutricional dos alimentos, é importante não desperdiçar água da cozedura: para uma panela de 6 litros, 2 litros de água é mais do suficiente ‒ se necessário, pode sempre acrescentar-se água durante a cozedura; já retirar-se água, conduzirá sempre ao desperdício de elementos benéficos. A base da minha sopa é água, sal, pimenta preta, uma cebola grande e azeite. Quanto à adição de azeite ‒ se deve ser acrescentado no início ou no final ‒ as opiniões dividem-se. Pode dar-se alguma degradação das gorduras boas (monoinsaturadas) quando a cozedura atinge altas temperaturas (o que é difícil nos fogões/placas de uso doméstico). Pessoalmente, não noto grande diferença de sabor, entre acrescentar o azeite no início ou no fim da confeção da sopa, pelo que, por via das dúvidas, opto pela segunda possibilidade.
  
Costumo fazer sempre alguma quantidade de sopa, que depois armazeno e vou reaquecendo, em porções, durante a semana. Para garantir uma degradação mínima da sopa, é importante:
1. Deixar arrefecer completamente antes de acondicionar em embalagens e armazenar no frigorífico;
2. Utilizar embalagens de boa qualidade (se possível, de vidro ou inox, ou em alternativa, plástico de boa qualidade);
3. Dividir em porções de acordo com o que se vai utilizar ‒ para evitar que a mesma embalagem seja aberta e fechada várias vezes;
4. Se possível, ferver sempre a sopa antes de servir.
A sopa é um componente importante da dieta mediterrânica, sendo uma boa maneira de garantir o consumo de vegetais e uma boa fonte de hidratação; é também uma opção de baixo custo.

E aí por casa, como são as sopas?

sexta-feira, 13 de março de 2015

Barcelona

Há coisas que não se explicam; empatias, afetos, preferências que nos colonizam, sem sabermos muito bem como ou por quê. Há sonhos que nem sabemos que temos, até ao dia em que estes se tornam realidade.
Não sei dizer, com precisão, quando e como é que terá nascido o meu amor por Barcelona, mas estou desconfiada que este filme terá sido um dos primeiros e principais culpados.


Não é difícil de compreender. Aliás, estranho seria que a miúda de 18 anos que eu era ‒ recém-entrada na Universidade, a dar os primeiros passos na vida adulta e na independência ‒ não ficasse imediatamente fascinada por tudo aquilo: aquelas cores, aquele sons, aquela gente, aquelas vidas. Provavelmente, terei também a agradecer a este filme, e ao Cédric Klapisch, o interesse que, mais tarde, também desenvolvi pelo cinema francês, mas isso já é outra história.
Como todas as paixões que valem a pena, que se inflamam sem se extinguir, esta foi fervendo em lume lento. Alimentada, aqui e ali, por outros filmes, outras leituras, outros olhares. Quando tivemos que decidir qual gostaríamos que fosse o destino da nossa primeira viagem "a sério", não houve grandes dúvidas: seria em Barcelona que passaríamos a nossa lua-de-mel.
Pode não parecer a escolha mais óbvia, mas para nós ‒ no nosso imaginário ‒ a cidade encapsulava tudo aquilo que sonhávamos e projetávamos para a nossa vida a dois: uma história longa e rica, luz, diversidade, descoberta, movimento. Não queríamos "lagartar" ao sol (embora, pessoalmente, não tenha nada contra; aliás, até sou bem adepta...!); queríamos voltar desta experiência enriquecidos, mudados, com mais mundo. E encontrámos tudo isso, e muito mais.

Há amigos que vão ao casamento, e há amigos que vão à lua-de-mel; e a Catarina foi à lua-de-mel!



Temos a agradecer-lhe, entre outras coisas, a companhia e a orientação, o café Delta na Plaça del Sol, a introdução ao fuet e o L'Ovella Negra!

Sobre Barcelona, pode dizer-se e mostrar-se tudo e mais alguma coisa, e eu já fiz essa experiência: se me perguntarem, não me calo! Precisava de 50 posts, e mesmo assim, talvez ficassem coisas por dizer, imagens por mostrar. Não perderei tempo a falar sobre aquilo que se encontra em qualquer guia turístico ou, em segundos, em qualquer pesquisa online. Tudo o que posso dizer é que é lindo, e vale a pena!

De Barcelona, trago a comida. O pão e o vinho, o tomate, o azeite, o granissat de llimona. O passeio a pé, a partir do hotel, na noite em que chegámos, e a gente pela rua, o calor, os miúdos a brincar, as conversas, as gargalhadas. Vida a brotar em cada esquina, em música e em movimento. 

Trago a chuva de Verão, e a festa de La Mercè, e as ruas tão cheias, e toda aquela trepidação. O fogo de artifício e a vida a transbordar.

Trago o inesperado. A máquina fotográfica constantemente em punho, e a ânsia de captar todos os tesouros, todos os encontros.

Trago os becos, as praças, as arcadas. O tijolo e o ferro. Os trencadís. A construção e reconstrução constantes. O metro, o tramvia, o teleférico. Os quilómetros a pé.

Falar de Barcelona é como falar de um ente querido. De felicidade genuína. De coração aberto. De saudades. De vontade de regressar, e regressar, e regressar. 






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Algumas sugestões:

Para comer:
- Trobador Braseria Mediterrània - C. Enric Granados, 122
 
- La Llavor dels Orígens - C. C. Vidrieria, 6-8; C. Ramón i Cajal, 12 (Gràcia); Passeig del Born, 4
- El Sofalito - C. París, 175
Para ver:
- Barcelona Movie Walks

Para ler:
- «Guia da Barcelona de Carlos Ruiz Zafón» de Sergi Doria (ed. Planeta)
- «Homenagem à Catalunha», George Orwell (ed. Antígona)
 Para visitar (entre tantas e tantas outras coisas):
- Museu d'Història de Catalunya - Pl. de Pau Vila, 3 (Palau de Mar)
- L'Aquarium - Moll d'Espanya del Port Vell

segunda-feira, 9 de março de 2015

A avó e o bolo

A minha avó não é uma daquelas avós fofinhas, do molde Disney, de carrapito no alto da cabeça, óculos na ponta do nariz e avental branco, sempre impecável. Não foi a avó das histórias e dos lanchinhos caprichados, não foi a avó do colo e dos conselhos sábios.
Desde que me lembro de ser gente, a minha avó sempre trabalhou ‒ eu já era adulta quando ela se reformou ‒ e, para mim, a identidade dela (e o meu imaginário de 'avó') sempre esteve fortemente ligada à sua profissão; que, aliás, desempenhou sempre com prazer, dedicação, inspiração. Ainda hoje, quase 10 anos depois, muitas das suas amizades, e em especial as mais permanentes e consistentes, foram forjadas no contexto de trabalho.
A minha avó é o tipo de avó que só se pode apreciar depois de crescer, depois de viver, depois de dar as suas próprias cabeçadas e fazer as suas próprias descobertas.  Eu penso que sou, também, um pouco assim; como a minha avó, um gosto adquirido, aprendido!
Há outro aspeto em que, parece-me, sou também bastante parecida com a minha avó: dizemos que amamos, fazendo. Fazer alguma coisa por, ou para, alguém que se ama é a forma de expressão que me surge com mais naturalidade. Se isso está no sangue, ou se isso é fruto do que toda a vida se vê e se sente, não sei. Mas assim é!

Este sábado, dia 7 de Março, a minha avó fez 77 anos. Já há algum tempo que não celebrava o aniversário com ela, mas este ano a coisa proporcionou-se, e até a meteorologia ajudou! Foi um dia feliz, longo, preenchido; de luz, de risos, de amor em atos e em memórias ‒ mais do que em palavras. Somos assim.


O bolo de aniversário foi feito e decorado por mim ‒ como não podia deixar de ser!
A base é um bolo de cenoura e frutos secos que já utilizei várias vezes (receita aqui; acrescentei apenas uma colher de chá de fermento, apesar de ter utilizado farinha com fermento). Já experimentei fazer com noz e com amêndoa, e resultou bem de ambas as formas.





Quando utilizo formas sem furo no meio, há sempre tendência para o bolo abobadar um pouco ao centro. Isso acontece porque a parte exterior do bolo, por estar mais próxima do metal, atinge uma temperatura mais elevada, e por isso coze primeiro, do que o centro do bolo. Uma forma de contornar isso é tentar manter o exterior da forma mais frio, e há algumas soluções no mercado: umas tiras reutilizáveis, que se molham, e se enrolam à volta da forma (exs.: aqui e aqui). Uma outra solução é reutilizar panos ou roupas velhas (de algodão), sem outro uso, que há sempre esquecidas em alguma gaveta. Deve haver a preocupação de fazer uma tira o mais uniforme possível, com extensão suficiente para rodear toda a forma, e que fique bem cingida. Neste caso, há que estar atento ao processo de cozedura, em especial em fornos a gás (com chama), para evitar acidentes!

Como a ideia era rechear e cobrir o bolo, neste caso a solução foi cortar o topo (há sempre algum/a voluntário/a para "tomar conta" dos restos!...), e virá-lo ao contrário, de forma a garantir uma superfície uniforme.
Caso se pretenda rechear ou cobrir o bolo, este deve sempre arrefecer completamente, de preferência sobre uma grelha metálica. Normalmente, deixo os bolos (ou queques) arrefecerem, primeiro, durante uns 10 minutos, dentro da própria forma, transferindo depois para a grelha, onde ficam até arrefecerem completamente.

Para este bolo, de cenoura e noz, utilizei uma cobertura buttercream com infusão de alfazema (ou lavanda). Foi a primeira vez que utilizei uma infusão de alfazema, e resultou muito bem! Utilizei alfazema seca, que se pode comprar embalada em lojas de produtos naturais/dietéticos ou drogarias, ou até em alguns supermercados (mas falarei, numa próxima oportunidade, sobre a possibilidade de colher, secar e utilizar plantas aromáticas de produção própria). O buttercream utiliza, para além da manteiga (que lhe dá o nome), açúcar em pó, essência de baunilha e leite. Como queria experimentar uma cobertura com aroma de alfazema, utilizei leite infundido. Para garantir um aroma subtil, uma opção poderá ser combinar leite infundido e leite "normal" (para diluir).

A proporção é de uma colher de sopa de alfazema seca para duas colheres de sopa de leite. Pode parecer muito, mas trata-se de uma infusão a frio ‒ junta-se a alfazema ao leite, num recipiente com tampa, e deixa-se repousar no frigorífico durante 6-8 horas (ou durante a noite). Como o leite não ferve, a libertação dos óleos essenciais da alfazema é limitada, pelo que o aroma será sempre mais subtil do que o de uma infusão quente (como o chá).


Para o buttercream:
- 250g de manteiga sem sal (em cubos, à temperatura ambiente)
- 1 colher de chá de essência (ou aroma) de baunilha
- 1/2 colher de café de sal
- 450g de açúcar em pó
- 6-8 colheres de sopa de leite (mais ou menos quantidade, conforme a consistência desejada)

Juntam-se o três primeiros ingredientes num recipiente e bate-se muito bem. Acrescentam-se o açúcar e o leite, aos poucos e alternadamente, batendo muito bem entre cada adição.


Quem tiver fornos amplos (e formas idênticas), poderá dividir a massa do bolo em duas (ou mais) formas, sobrepondo depois as camadas, intercaladas com o recheio. Para quem, como eu, não quiser (ou não puder) fazê-lo desta forma, poderá cortar o bolo longitudinalmente, depois de frio, com a ajuda de uma faca longa e flexível. Para garantir um corte uniforme, um truque será fazer uma primeira incisão superficial, a toda a volta do bolo (rodando o suporte/prato e não o bolo), garantindo que os dois extremos coincidem, passando depois, então, ao corte em profundidade.




Depois de recheado e coberto, ficou assim. Pessoalmente, acho que a cobertura irregular (algo "tosca") dá um certo charme, mas quem queira um acabamento mais delicado, poderá utilizar uma espátula ou uma faca (sem serrilha), que se vai mergulhando em água fria, para alisar a superfície do bolo. 
Para finalizar a decoração, as velas (claro!) e uns pintaínhos coloridos, da coleção de Páscoa da Tiger, porque a minha avó é a "maestra" da capoeira!




O resultado final: feito com amor e apreciado pelos/as provadores/as.
E no dia seguinte, ao pequeno-almoço, soube ainda melhor!...

Respigar. Transformar. Recriar.

A respigadora reaproveita, reinventa, redireciona ‒ a ela mesma e ao que a rodeia.

A respigadora poupa(-se) e explora(-se), cria(-se) e desenrasca(-se).

A respigadora descomplica, complexificando: busca estranhezas e novas possibilidades no familiar, no velho dos anos e dos usos.

A respigadora projeta, inventaria, mapeia.

A respigadora deixa espaços e tempos em branco para os imprevistos, as inspirações e as surpresas.

A respigadora articula recursos e referências. Resolve, atalha.

A respigadora busca a beleza das coisas simples, das pequenas conquistas, das grandes emoções.

A respigadora ouve e olha. Pulsa na cadência do mundo. Colhe-o devagar, minuciosamente, aos poucos, com gratidão.

A respigadora subsiste e persiste.